Quase não acompanho mais o noticiário da CPI. Os depoimentos e as discussões em torno do assunto são tão disgusting que estão fora da realidade. Melhor ver um filme, ler um bom romance, ouvir uma sinfonia... Afinal, já que o ambiente no Brasil de hoje nos afasta da realidade, para ter contato com ela precisamos fugir para a obra de arte, a ficção! Eu já cansei de acompanhar, não os fatos, mas a conversação em torno. Para mim, todos os implicados na história se comportam como personagens inverossímeis, máscaras malfeitas, e qualquer personagem de ficção é mais real que eles.
Delcídio Amaral dando entrevista no Jô, por exemplo. Muito tranqüilo, dizendo que é "religioso", que é chegado numa "energia" etc. Reclama da atmosfera da CPI no melhor estilo bicho grilo new age: "Culpados ou não, o clima lá é tããããão pesado..." (Poderia escrever vários parágrafos utilizando essa pérola como um ótimo exemplo do quanto o brasileiro deixou de se preocupar com o certo e o errado e passou a privilegiar o "agradável" em suas relações... mas deixo para uma outra vez.) A determinada altura, afirma categoricamente (com concordância também categórica de Jô) que não estava preocupado porque conseguia perceber a inocência de muitos dos depoentes na CPI apenas pela expressão do rosto: "o olhinho fala" etc. Cúmulo da alienação ou do cinismo mesmo? Não sei... Mas enfim, ele acha que está falando com quem, com 180 milhões de bobos?
Nessas horas, alguém tinha de lembrar a ele com uma cotovelada discreta que muitos (inclusive eu) acreditaram no "olhinho" do Maníaco do Parque - o motoboy serial killer de jovens mulheres. Aquela carinha redondinha, cheia de sardas, o ar absolutamente infantil, tudo apontava para uma figura acima de qualquer suspeita. E era justo o olhinho dele que mais chamava a atenção, feito de uma sinceridade cristalina ao garantir em frente às câmeras que era inocente. Sei de gente que chorou quando soube, pela posterior apuração dos fatos, que ele era culpado de todos aqueles assassinatos. Pois o brasileiro já cansou de "olhinho" e de "promessinha". A gente quer mesmo é a graninha no lugar certo, onde deve estar, não no bolso largo de quem nos rouba. E isso só os fatos serão capazes de dizer - os fatos, esses seres que vêm sendo tão menosprezados pelos bem falantes da mídia no decurso dessa CPI.
Um esforço, com a graça de Deus, de recolocar o cristianismo na via dos debates intelectuais. Não por pedantismo ou orgulho, mas por uma necessidade quase física de dar nomes às minhas intuições e contornar o status quo das idéias hegemônicas deste mundo.
26 julho 2005
11 julho 2005
Show de Truman à brasileira
Hoje eu estava no táxi indo para casa e o rádio estava sintonizado em uma dessas estações brega-desafinadas. Tocou então um "pagode" assim: "Tira essa mulher de mim, tira essa mulher de mim..." O sentido era: o cara estava apaixonado e não podia estar, precisava esquecer a mulher; vejam com que belíssimas palavras e com que sutileza isso foi expressado na "música"!
E aí me veio a certeza fulminante: o que falta para estarmos em pleno 1984? NADA! Temos a indigência cultural, fabricada especialmente para o povão e consumida unanimemente - escapar disso requer um esforço quase arqueológico; temos a diferença absurda entre quem trabalha para o Governo-Estado-Partido e quem não trabalha, em termos de remuneração, segurança e status; temos a invasão estúpida e absoluta de privacidade, feita por quem tem meios para isso, basta querer. Está tudo (com o perdão do cacófato) aí! A grande diferença, e que só torna a coisa toda milhões de vezes mais eficaz e perversa, é que a maior parte da situação não é imposta, mas consentida. É o sistema perfeito: as pessoas estão esmagadas, sentem-se esmagadas, mas jamais o diriam, porque a coerção não é visível, e não conhecem algo mais humano que isso.
Enquanto isso, a beleza natural do país vai fazendo o papel de um estupefaciente. Onde moro, por exemplo, as vistas são belíssimas, mas eu me sinto esquisita - como se soubesse que aqui é o lugar exato para passar o finalzinho da vida. Estaria feliz se só me restasse curtir a aposentadoria, devorando a literatura que ainda não conheço, passeando no calçadão, comendo nos ótimos restaurantes, fazendo amizade com os vizinhos, tomando banho de piscina na AABB (se eu fosse uma aposentada do Banco do Brasil). Por isso me sinto sufocada, sabendo que tenho tanto o que produzir e por aqui não há meios, não há estímulos, não há quem me ensine e sequer quem me ouça com interesse. Não consigo deixar de me lembrar do Raul Seixas: "Eu é que não me sento no trono deste apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a mooorte chegaaaaar!"
Quando a gente compreende o que está se passando, é inevitável essa sensação de figurante do Show de Truman!
E aí me veio a certeza fulminante: o que falta para estarmos em pleno 1984? NADA! Temos a indigência cultural, fabricada especialmente para o povão e consumida unanimemente - escapar disso requer um esforço quase arqueológico; temos a diferença absurda entre quem trabalha para o Governo-Estado-Partido e quem não trabalha, em termos de remuneração, segurança e status; temos a invasão estúpida e absoluta de privacidade, feita por quem tem meios para isso, basta querer. Está tudo (com o perdão do cacófato) aí! A grande diferença, e que só torna a coisa toda milhões de vezes mais eficaz e perversa, é que a maior parte da situação não é imposta, mas consentida. É o sistema perfeito: as pessoas estão esmagadas, sentem-se esmagadas, mas jamais o diriam, porque a coerção não é visível, e não conhecem algo mais humano que isso.
Enquanto isso, a beleza natural do país vai fazendo o papel de um estupefaciente. Onde moro, por exemplo, as vistas são belíssimas, mas eu me sinto esquisita - como se soubesse que aqui é o lugar exato para passar o finalzinho da vida. Estaria feliz se só me restasse curtir a aposentadoria, devorando a literatura que ainda não conheço, passeando no calçadão, comendo nos ótimos restaurantes, fazendo amizade com os vizinhos, tomando banho de piscina na AABB (se eu fosse uma aposentada do Banco do Brasil). Por isso me sinto sufocada, sabendo que tenho tanto o que produzir e por aqui não há meios, não há estímulos, não há quem me ensine e sequer quem me ouça com interesse. Não consigo deixar de me lembrar do Raul Seixas: "Eu é que não me sento no trono deste apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a mooorte chegaaaaar!"
Quando a gente compreende o que está se passando, é inevitável essa sensação de figurante do Show de Truman!
07 julho 2005
Livramento de Deus em Londres!
Uma amiga cristã, a Gabriela, acaba de me contar que acordou espontaneamente às quatro da manhã de hoje, sem sono nenhum, com a urgência de orar. Ficou meia hora pedindo sem parar a Deus pela proteção da irmã que está em Londres. O atentado estava prestes a acontecer e ela não sabia de nada! Depois, soube da tragédia pela internet e ligou uma coisa à outra. A irmã logo telefonou contando que estava no ônibus que ia para o metrô quando um policial tirou todo mundo de dentro por causa dos rumores das bombas. Ela chegou a ver depois, mais adiante, o mesmo ônibus destroçado. Foi um grande livramento de Deus!
Ele nunca é louvado sem razão, nunca!
Ele nunca é louvado sem razão, nunca!
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