30 setembro 2013

29a Conferência Fiel - "O Deus presente"

Daqui a uma semana, estarei em Águas de Lindoia para minha primeira participação na Conferência Fiel deste ano, na companhia queridíssima de Wanger Campos! Eu e ela falaremos para as mulheres às 16h30 na quinta-feira, dia 10 de outubro.

Confira toda a programação no site da Fiel!

Observação importante: nesta semana e na outra, estarei viajando. Como da outra vez, o modo de não deixar o blog parado será diminuir o número de postagens para três por semana. Continuo a pedir orações por minha saúde, pois a enxaqueca diminuiu em intensidade mas continua persistente. Deus os abençoe!

26 setembro 2013

Arte e nudez: uma mudança de perspectiva?

Em meu livro A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã, escrevi que acreditava na nudez artística, "invenção dos gregos, imagino". (Esqueça o cinismo contemporâneo de quem faz pornografia justificando-se com a expressão "nudez artística": estou falando mesmo dos gregos e dos renascentistas, não da libertinagem pós-moderna.) Propositalmente, deixei o assunto no ar, reconhecendo que não poderia ser dogmática naquele momento, mas com a promessa implícita de voltar a ele. Conversei com meu marido sobre isso certa vez, apenas para perceber que este era um dos raros temas em que o consenso entre nós não foi possível: ele é contra toda nudez na arte e eu me pronunciei a favor, dentro de certos limites, nos mesmos moldes de Hans Rookmaaker, que é criticado nesse artigo do Christian Pundit. Esta postagem tem então dois objetivos: recomendar o artigo como um bom ponto de partida para discussões futuras e revelar algo que me aconteceu ontem, e que não deixa de ser engraçado. Rearrumando a estante de livros, vi que, em uma das pontas, havia ficado visível - e logo em frente à porta do escritório - a capa de um exemplar de Alain Besançon, A imagem proibida, que exibe uma estátua grega de nu masculino. Instintivamente, troquei-o de lugar pelo livro que estava mais perto - um de Affonso Romano de Sant'Anna, Desconstruir Duchamp, que mostra a privada assinada do bufão-artista (menos mal). Desconforto diante da possibilidade de olhares alheios ou mudança de perspectiva à vista? Não sei, e por isso eu não poderia deixar de registrar o fato aqui, para revisitações futuras.

Não posso negar: biblicamente, é muito difícil defender a nudez artística. Segundo o artigo do Pundit, de modo muito semelhante a Victor Hugo sobre a feiura (no prefácio a Cromwell), Rookmaaker declarou (em Modern Art and the Death of a Culture): "O erótico e o sexual têm um lugar na arte, assim como na vida... Não podemos simplesmente afirmar que o nu na arte é impuro" (tradução minha). Certo, mas (argumenta WVD, autor ou autora do artigo) a arte pertence ao olhar público, e o lugar da celebração do erotismo e do sexual (e, consequentemente, da beleza de corpos nus) é o casamento, a portas fechadas. Por outro lado (e aqui sou eu dialogando comigo mesma), é impossível não se embevecer com certos quadros renascentistas que apresentam um nu tão diáfano, infinitamente distante da realidade sexual cotidiana, e nisso esses nus parecem ensinar um olhar muito diverso, admiração sem desejo, sobre o corpo humano (quase sobre-humano). Por isso tudo, não fechei cem por cento com a ideia exposta no artigo, embora a princípio não me agrade desaguar a questão em cada obra particular ("esse" nu pode, "esse" não pode). Adoraria conversar mais sobre o assunto com cristãos artistas, teóricos da arte ou simplesmente apaixonados pela arte, como eu - quem quiser, pode se candidatar nos comentários.

25 setembro 2013

Vantilianas (II)

"Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem" (Dt 8.3-4).

"Está escrito: 'Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus'" (Mt 4.4).

A palavra de Deus, registrada na Bíblia, é comida para nós. Interpretada do modo mais ligeiro, essa passagem aponta para a necessidade de nos alimentarmos da Palavra todos os dias - sim, "ler a Bíblia" é fundamental para nossa sobrevivência como cristãos. Mas creio que devemos ir além. Ao repetir o trecho de Deuteronômio ao diabo, além de ecoar uma evidente autorreferência ("sou o pão que desceu do céu", Jo 6.32-35), Jesus anunciou ao próprio instigador da autonomia humana, em alto e bom som, que todos os sistemas construídos pelo homem que não usam como base a revelação de quem é Deus e o que é o homem e toda a criação, mas partem do próprio homem como centro do conhecimento e da sabedoria, são como que construções de mortos de fome e sede espirituais. Pois é de Cristo que precisam partir qualquer conhecimento, qualquer concepção e qualquer organização teórica sobre o que existe. Tenho constatado que um excelente professor desse arraigar radical em Cristo é Cornelius Van Til.

Você está vivendo da palavra que sai da boca de Deus? Você não apenas a lê, mas deixa que essa palavra lhe comunique os princípios básicos sobre você mesmo e sobre todas as áreas da vida? Você permite que essa palavra seja a parteira da realidade junto com a própria realidade? Ou sente que, seja por que motivo for - aprovação de pessoas importantes, sobrevivência no trabalho, indolência, falta de tempo, rebeldia, - , a real realidade fica sempre à margem da Bíblia? Se este for seu caso, arrependa-se com sinceridade e fale com Deus, pedindo-lhe mudança. Não duvido de que logo você começará a sentir seus ossos espirituais mais fortes, sua mente mais coesa e seu coração mais vibrante. Em vez de fazer orbitar sua cosmovisão e suas motivações profundas em torno de desejos e impulsos obscuros, girando em torno de um vácuo e errando pela vida, você começará a viver da palavra que sai da boca de Deus - o único modo de viver verdadeiramente.

23 setembro 2013

Do que você tem medo?

Do que você tem medo?

- Medo de que suas ideias sejam obsoletas;
- Medo de que suas ideias sejam vistas como obsoletas;
- Medo de perder o bonde da história;
- Medo de ser visto como alguém que perdeu o bonde da história;
- Medo de falar uma linguagem antiga demais;
- Medo de que sua linguagem seja considerada antiga demais;
- Medo de cultivar o passado;
- Medo de ser conhecido como quem cultiva o passado;
- Medo de estar fora de moda;
- Medo de ser apontado como alguém que está fora de moda;
- Medo de ser esquecido;
- Medo de ser esquecido.

Progressismo é cronocentrismo, que por sua vez se indissocia do anseio por aplausos.

Estar em Cristo é atemporal; o abraço de Deus é eterno.

20 setembro 2013

Idolatria estatal

Desde que comecei a pensar a realidade a partir da questão da idolatria, aprofundou-se em mim a descoberta de que podemos aprender muito com autores não-cristãos sobre determinadas idolatrias - porque, na mente não-regenerada, uma cegueira absoluta sobre alguns ídolos pode conviver com uma lucidez incrível sobre outros ídolos.

Perguntaram a Luiz Felipe Pondé (aos 38 minutos) de onde vinha o politicamente correto. Pondé, infelizmente, não crê na redenção, mas consegue enxergar que uma das cosmovisões mais preponderantes hoje é uma espécie de "puritanismo político". Eis a ótima resposta:


Vem de um parentesco distante com a tradição rousseauniana. Rousseau acreditava em um "estado de natureza" em que a humanidade vivia uma condição de identidade entre desejo e necessidade, não havia um "descolamento" entre ambos. E, na lógica dele, estando o mundo corrompido, se o poder fosse levado a pessoas menos corrompidas (por terem tido menos sucesso na corrupção da relação entre desejo e necessidade), haveria uma purificação da política. A política tomou o lugar da graça. Antes do século XVIII, todos acreditavam que o mundo seria redimido por Deus - o que não é meu caso, pois eu não acredito em redenção. Essa questão acabou ativando todo tipo de ressentimento nas pessoas, porque não há nada pior que encontrar pessoas melhores que você. A base filosófica do coitadismo, do culto da vítima no politicamente correto, nasce com Rousseau - e a diferença entre ele e Marx é que o bom selvagem dele está no começo, e o de Marx está no final, que é o homem transformado. Isso se tornou uma espécie de capital político e moral onde as pessoas penduram todo tipo de ressentimento.
Pondé tem razão. O politicamente correto é a tentativa de solução para esses ressentimentos, uma solução política, por meio de leis e controle da sociedade, oferecida pelo Estado através da obsessão com a igualdade - que é massificação. Ao adotar essa função, o Estado se fortalece política e moralmente (em uma cultura já preparada por ele mesmo, via educação e mídia, para acolher bem suas decisões) para continuar a "inchar" e ocupar o espaço de uma divindade poderosíssima, pois sua missão é verdadeiramente cósmica: aplainar as diferenças que geram ressentimento. Tenho mostrado repetidamente, no blog, que a cultura de correção política é uma cultura de idolatria estatal. E a idolatria cresce à medida que a sociedade se descristianiza, como afirmou Francis Schaeffer:
À medida que o consenso cristão, que nos dava liberdade dentro dos moldes bíblicos, vai sendo cada vez mais esquecido, uma força autoritária de manipulação tenderá a preencher o vácuo.
Uma leitura atenta do Antigo Testamento mostra que, todas as vezes em que o povo de Israel saía da presença de Deus e começava a adorar falsos deuses, era conquistado por governantes que o oprimiam. Isso é juízo de Deus, um juízo que está dentro da estrutura da realidade conforme Deus a criou: sem a presença Dele, nós começamos a preencher o vazio com ídolos, e esses ídolos acabam tomando forma concreta e nos escravizam. Onde a autoridade de Deus se esvai, os consensos humanos reinam sem controle. Que Deus nos ajude a continuar a combater o ídolo estatal politicamente correto que continua a ser acalentado por tantos cristãos.

19 setembro 2013

Amar com o amor de Deus

...uma continuidade tão evidente entre as ações de Deus e seus efeitos em mim que "eu te amo" se torna "eu te amo com o amor de Deus" e "eu não te amo mais" é uma total impossibilidade.

18 setembro 2013

Quando pessoas viram engrenagem

No dia 15 deste mês, duas adolescentes se beijaram ostensivamente durante um culto público do pr. Feliciano em São Sebastião, litoral de São Paulo. Feliciano, como todos sabem, é alvo preferencial do movimento gay. (Um rapaz as segurou perto do palco para que o pastor as visse. Elas mesmas confessaram que o objetivo era chocar.) Já disse em algum lugar que Feliciano não é exatamente o melhor exemplo de pastor que o mundo protestante brasileiro tem a oferecer. Não mesmo. Mas evito dizê-lo, pois não quero de modo algum participar do linchamento moral de que ele tem sido objeto nos últimos tempos. 

A história suscita várias reflexões, todas lamentosas. Triste época a nossa, em que um beijo se torna uma afronta pública, um insulto vindo de corações irados contra a moralidade sexual tradicional. O amor é invertido e transformado em soco na cara nessa exibição maliciosa de beijos, corpos nus e atos de atentado ao pudor nas paradas gays da vida. Tenho certeza de que muitos homossexuais estão tão tristes com esse estado de coisas como eu - e envergonhados também, pois o movimento gay insiste em representar a todos.

Triste época a nossa, em que tanto o atentado ao pudor quanto a perturbação de culto religioso são leis que estão perdendo a validade na boca de "especialistas". No Facebook, uma página chamada "Brasil contra Igreja Universal" até aproveitou a notícia do beijo para fazer apologia ao crime:
A BCIU gostaria de ver muitos, muitos beijos lésbicos nos cultos de Marco Feliciano e de todos os líderes religiosos homofóbicos e fundamentalistas, que simplesmente reservam aos homossexuais o seu ódio interior.
Ódio interior? E o ódio exterior de um beijo ativista durante os cultos? É um "ódio amoroso"? Vale? O totalitarismo da vítima nessa fala é evidente: os ativistas inventam males, sentam-se perpetuamente na cadeira da vítima e, com base nisso, assumem uma função moralizante tão ou mais violenta que os males inventados que pretendem criticar.

Triste época a nossa, em que o pensamento politicamente correto, bandeira entusiástica dos governos ocidentais e de organizações supranacionais como a ONU, tem sido bem-sucedido em fragmentar o povo em grupos contra grupos, estimulando a identidade tribal e forçando a "dialética" para que a pressão uniformizadora seja maior: a identidade individual é pisoteada, as consciências são violadas, as opiniões discordantes são reprimidas duramente e o povo vira massa. Para que o Estado tenha maior ingerência sobre a vida das pessoas e continue criando leis abusivas - como os projetos anti-homofobia - , ninguém pode deixar de dizer amém para a nova moralidade. Cuidado, homossexual ativista: você está sendo usado. As duas meninas não tinham nem vinte anos; talvez um dia elas compreendam a máquina da qual acabaram se tornando engrenagem.

P.S. No julgamento do mensalão, hoje, o último voto deu vitória aos tais embargos infringentes. Reinaldo Azevedo fala por mim: "O 'não' abriria o caminho para que, finalmente, se pusesse fim a esse processo, que se arrasta no tribunal há seis anos — oito desde a que o escândalo do mensalão veio à luz. O 'sim' de Celso de Mello, o sexto, coloca o país na vereda da incerteza, que, vejam só!, nos conduz àquilo que já somos: uma país notório por uma Justiça que é falha porque tardia e tardia porque falha." Nosso consolo é que um dia eles saberão que a justiça de Deus, essa sim, nunca falha.

17 setembro 2013

Diz que Deus dará...



Ouço desde pequena essa que é uma das pérolas da MPB, de Chico Buarque. A letra é hilariante e mostra o “Deus” para quem as expectativas do brasileiro se voltam: um sujeito bonachão ("Deus dará") com um senso de humor peculiar ("como é que pôs no mundo essa pobre coisica") e indulgente com o “jeitinho” (deu pernas e malícia pra "fugir da polícia"), mas em quem não dá pra confiar totalmente ("e se Deus não dá, como é que vai ficar, ô nega"). E, mesmo andando todo torto, o homem ainda se acha no direito de "se indignar" se Deus não dá. É essa cultura que confrontamos quando pregamos o Deus da Bíblia, soberano e justo.

16 setembro 2013

Lista de livros

Hoje e amanhã, às 19h30, darei palestras no evento em Natal que anunciei aqui. Falarei essencialmente de cosmovisão cristã e idolatria. Como gosto de fazer, deixo uma lista de livros para quem quiser saber mais sobre o que foi dito nas palestras. Comentei alguns desses livros aqui. Meu livro pode ser lido como uma introdução geral: A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã, publicado pela editora Vida Nova e à venda aqui (NOVIDADE: já tem em ebook!).

Livros cristãos que tratam de cosmovisão, idolatria, apologética

Calvinismo, Abraham Kuyper
A morte da razão, O Deus que intervém, O Deus que se revela, O grande desastre evangélico e outros, Francis Schaeffer
Idols for Destruction, Herbert Schlossberg
Ídolos do coração e feira das vaidades, David Powlison
Criação restaurada, Albert Wolters
A alma da ciência e Verdade absoluta, Nancy Pearcey
Todo mundo pensa, você também, Wadislau Martins Gomes
Razões do coração, William Edgar
Apologética cristã e O pastor reformado e o pensamento moderno, Cornelius Van Til
Apologética para a glória de Deus, John Frame
O deus do sexo, Peter Jones
Cristianismo puro e simples, C.S. Lewis

Autores não-protestantes que tratam das cosmovisões modernas

A busca pela justiça cósmica, Thomas Sowell
A infelicidade do século, Alain Besançon 
O livro negro do comunismo, Stéphane Courtois
Origens do totalitarismo, Hannah Arendt
A mente cativa, Czeslaw Milosz
Sócrates encontra Maquiavel, Peter Kreeft

Update: testemunhos de quem sofreu em países comunistas

Torturado por sua fé, Haralan Popov
Cisnes selvagens, Jung Chang
Onde é que Cristo está ainda a ser perseguido?, Richard Wumbrandt
O homem do céu, Irmão Yun

 Lágrimas na chuva, Sérgio Faraco

13 setembro 2013

Documentários para entender o mundo e uma nota confessional

Hoje trago uma recomendação fantástica de Alexandre Borges, do Feedback Magazine, que selecionou "cinco documentários para entender o mundo" em resposta à seleção de outro site que trazia até o bufão Michael Moore. Dos cinco, o único que vi foi The Agenda, que, entre outras informações de arrepiar os cabelos, traz uma desconcertante árvore genealógica de ideias, todas remetendo ao arquivovô Karl Marx. Não consegui trazer para cá a figura, mas você pode vê-la no link indicado acima. Como diz o texto de Borges, esse documentário é "um dos melhores resumos já feitos sobre o marxismo cultural e a influência dele no Ocidente".

E eu acrescentaria que The Agenda é um documentário cujo final me deixou muito feliz: longe de ostentar uma descrença desanimada - como é o caso de muitos conservadores que não têm a fé cristã como fundamento para sua cosmovisão -, aponta para o arrependimento (assim como no AT) como a única forma de evitar o mal iminente. Assista!

E há mais uma coisa que me deixou feliz. Pesquisando meu blog para saber se já tinha recomendado The Agenda antes, topei com uma postagem antiga em que eu declarava o seguinte:
O problema do cristão que se concentra em demasia nos assuntos políticos é ocupar demais a mente com os pecados alheios. Isso corrói o coração. Agora que a Dilma entrou, eu quero mais é me ocupar com assuntos que prefiro – teologia e filosofia – , mas sem esquecer, claro, na medida do possível, de ajudar os cristãos a se livrarem da idolatria socialista.
É engraçado como a agenda de Deus pode ser totalmente diferente da nossa. Hoje, quase três anos depois, eu já não assinaria o texto acima; pelo contrário, vejo que há um dualismo nele: política está em oposição a teologia e filosofia. Nesse dualismo, é claro que os "pecados alheios" vão corroer o coração. Mas, sob a luz correta e as associações corretas, consigo fazer crítica cultural sem me perder emocionalmente. E isso - sobretudo para quem me conhece e sabe o quanto sou intensa em tudo o que faço - é obra de Deus. (Perceba, leitor, o quanto sua saúde emocional tem incidência sobre sua vida intelectual. Racionalismo, num cristão, é morte!) Constato então o quanto mudei! Não tenho mais a angústia e a amargura que sentia quando lidava com assuntos de política; não vejo mais a política como algo à parte da teologia e da filosofia; vejo-me mais interessada que nunca no entrelaçamento desses temas. Tudo isso porque o núcleo em torno do qual eles gravitam passou a ser mais biblicamente sólido. Consigo enxergar, bem mais que antes, o que venho dizendo ao longo desta semana: o quanto a ausência da autoridade divina deixa a sociedade vulnerável aos governos totalitários. Meus temas preferidos estão se harmonizando de um jeito que tem me deixado satisfeita e querendo mais.

Há ainda a vontade de integrar a esse "sistema" (astros gravitando em torno de uma estrela) os meus estudos sobre arte e literatura. Recentemente fui a São Paulo para dois módulos no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e tirei um tempinho para visitar o MASP, onde vi quadros maravilhosos e anotei várias reflexões que renderão em breve um post para o blog! E encerro esta postagem confessional afirmando mais uma vez o quanto meus estudos no Jumper - que começaram há três anos - têm sido fundamentais para o fortalecimento de minha cosmovisão. (Aliás, diferente do que alguns dizem por aí, foi no Mackenzie que encontrei os cristãos conservadores mais coerentes e firmes que conheço.) Peço a Deus que minha mente sempre trabalhe escorada nessa verdade:
Não há um único centímetro quadrado, em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: é meu! (Abraham Kuyper)

11 setembro 2013

O maior genocídio


TODO DIA É 9/11 PARA O NÃO-NASCIDO
3.500 mortos por dia. E os terroristas têm licença para matar.


Os números do cartaz se referem aos Estados Unidos. Dados da Organização Mundial de Saúde (2005) informam que, no mundo, ocorrem em média 50 milhões de abortos por ano - um a cada 24 segundos. A matéria que fornece esses dados (e que, na lógica bêbada de sempre, sugere que se legalize o procedimento) traz a singela comparação: “é como se 1/4 da população brasileira ou todos os habitantes da Itália, ou da Espanha ou da Argentina fossem exterminados em um único ano”. No Brasil, dados também de 2005, os números continuam a assustar: cerca de 1,5 milhão de abortos a cada ano. Na comparação, “é como se fosse eliminada totalmente a população de Porto Alegre, ou de Recife, ou de Campinas e Niterói juntas”. Eis o maior genocídio da atualidade.

Update: Talvez os números acima tenham sido manipulados - inflacionados - para reforçar o argumento bebum dos defensores do aborto. Como se a legalidade fosse impeditiva, e não estimulante, de qualquer infração! Mas a verdade é sobriamente óbvia: a legalização empurra os números para cima, não para baixo. Só se pode frear o genocídio com criminalização e conscientização.

10 setembro 2013

Estrutura e liberdade

Na postagem anterior, tratei da verdadeira liberdade, só possível em Cristo. Como corolário, tanto o autoritarismo dos consensos como a crença etérea na liberdade sem limites acabam mostrando sua verdadeira natureza anti-humana. Mesmo quem não é cristão pode atestar que não existe liberdade per se. A liberdade se exerce em uma estrutura, dentro de limites - que, como escrevi ontem, só podem ser fornecidos pelo Criador de tudo o que existe, pois apenas Ele está fora do mundo e pode dispor do que criou de um modo autêntico e harmonioso. Se é Dele que vem a autoridade absoluta, toda autoridade humana é consequentemente limitada: excluídas estão as possibilidades de totalitarismo. Por outro lado, a ilusão da ausência de toda autoridade sempre desembocará em autoritarismo, explícito ou não.

Em Dust of Death: The Sixties Counterculture and How It Changed America Forever [Poeira de morte: a contracultura dos anos 1960 e como mudou os Estados Unidos para sempre], Os Guinness menciona a tensão entre liberdade e estrutura (que ele chama de "forma") no antigo sonho das comunidades hippies autossuficientes:

Para cada comunidade "bem-sucedida", muitas outras foram relutantemente forçadas a enxergar o quão estéreis eram suas bases para uma comunidade de seres humanos. Como se constrói uma comunidade fundada em reais unidade e diversidade, com uma autoridade fornecendo a "forma" mas sem sufocar a liberdade, para arbitrar sobre as inevitáveis diferenças e tratar das alienações? (Muitos descobriram que, vivendo em comunidade, o irritante não é exatamente aquilo que os outros fazem, como nas cidades, mas o que deixam de fazer.) Fundar uma comunidade na base do escapismo é a fórmula para o desastre iminente, mas não é muito melhor construir uma comunidade somente com idealismo. Muitas comunidades que têm como ideal uma liberdade total falham logo no primeiro ano. O triste dilema que enfrentam é evidenciado em uma carta pungente escrita para o Modern Utopians: "Se as comunidades anseiam por sobreviver, precisam ser autoritárias, e se forem autoritárias, não oferecerão mais liberdade que a sociedade tradicional. Não fico feliz com essa conclusão, mas agora me parece que o único jeito de ser livre é ficar sozinho." Tal declaração soa de fato como uma nota de rodapé ao insight profético de Nietzsche de que, em um mundo sem Deus, não há resolução entre forma e liberdade. Esta geração, que tende a optar universalmente por uma liberdade sem forma, deveria considerá-la como um epitáfio para os esforços do passado e um aviso para o futuro.

Sim, um aviso de que o pêndulo sempre retorna: depois das tentativas loucas de uma liberdade absoluta e sem freios, vêm as tentativas perigosas de um poder absoluto e sem freios para acalmar a insegurança gerada pelas primeiras. Cuidado com o que você defende, sobretudo sob um governo que busca o poder total: qualquer desestabilização o favorecerá. Este momento brasileiro de Black Blocs e quetais ecoa significativamente os não tão remotos sixties. Reivindicações formatadas e sensatas (prisão dos mensaleiros, fim do voto obrigatório) se mesclam a idiotices (fim da "hipocrisia social", nudez, “antiproibicionismos" etc.). Não há uma linha-mestra a guiar as mentes, nem líderes, e nesse ambiente disperso as idiotices e as depredações acabam ganhando a dianteira. Os tempos são maus: o mundo tem oferecido à igreja uma vasta plataforma para os anseios pecaminosos que se traduzem nessa liberdade amorfa. E suas respostas têm sido travestidas de amor cristão. Mas, se você realmente se considera cristão, nada menos que bíblicos devem ser seus desejos e expectativas. Tente identificar onde o velho ídolo da liberdade sem estrutura se propõe mais uma vez, e fuja dele. Como todos os ídolos, trazem destruição.

09 setembro 2013

Teologia e liberdade

Meu amigo Sérgio Santos me fez uma pergunta em um de seus comentários. Aproveitei para transformá-la em postagem. Abaixo, a pergunta em itálico, seguida de minha resposta.

A leitura do mundo a partir de uma perspectiva marxista é uma forma de reducionismo, que fatalmente nos leva a uma distorção da realidade. É isso que promove o discurso esquerdista, que você tanto combate. Por que se substituirmos a perspectiva econômica pela teológica não recairíamos igualmente em uma forma de reducionismo? De que forma é possível compreender, então, que a cultura como algo indissociável da teologia pode ser libertadora?

De fato, você identificou uma possibilidade que, infelizmente, pode concretizar-se no pensamento de alguns cristãos que subjugam ou creem que devem subjugar a economia e/ou demais áreas do conhecimento à teologia. Esses cristãos estarão praticando o mesmo reducionismo com sinal trocado. Em seu livro Calvinismo, Abraham Kuyper esboça sua teoria da autonomia das esferas: a teologia e a cultura dialogam, pois ambas se reportam a Deus, assim como as demais esferas - família, igreja, Estado etc. Deus é o único que está acima de todas as esferas, o único que tem legitimidade para ser Senhor sobre todas elas (e na Bíblia há limites previstos para cada uma delas). Isso significa que, entre elas, há relação, mas jamais uma hierarquia abusiva. Por exemplo, o Estado deve coibir o mal e recompensar o bem, mas não pode exercer o papel professoral e moralizante que busca exercer hoje. Da mesma forma, a teologia precisa ser vista como uma organização humana dos saberes sobre Deus, que deverá reconhecer o tempo todo seus limites diante das demais disciplinas, recorrendo a elas quando necessário.

A existência de uma autoridade soberana, infinitamente boa e rica (ao ponto de ter criado tudo o que existe), sobre todos os seres humanos, é o que impedirá que algum dentre eles, ou qualquer outro aspecto da criação, exerça um papel autoritário sobre os demais. A autoridade absoluta de Deus é a única que liberta, pois, sendo Deus infinito e bom, legisla sobre aquilo que criou e faz com que as possibilidades de cada ser criado se expandam e se encaixem em um todo harmonioso. É justamente a ausência dessa autoridade que deixa os homens vulneráveis à tirania dos consensos de cada época e lugar - por isso todo governo ou sistema totalitário nega Deus ou reduz Deus a uma força manipulável pelo homem. Se o lugar da autoridade absoluta não estiver ocupado pelo Único que a merece, o espaço fica vago para absolutizações que sempre serão destrutivas. Colocar-se no lugar de Deus é precisamente o significado de idolatria. Assim, se aplicamos esse princípio à teologia, entenderemos que ela não pode ser confundida com o próprio Deus, para que não se torne idolátrica. Todas as esferas precisam reportar-se igual e diretamente a Deus, que é criador, legislador e mantenedor de todas elas. A meu entender, essa é a única forma de impedir a opressão do homem pelo homem e o autoritarismo dos sistemas de pensamento.

06 setembro 2013

Crucifixo

Por que manter crucifixos em locais públicos se o Estado é "laico"? Não deveria haver espaço também para símbolos de outras religiões? A cruz ofende e discrimina pessoas que não são católicas. Essa é a ideia que se propaga em todo o mundo ocidental, mais uma vez um subproduto da adoração à "deusa" Igualdade. Como se o papel do cristianismo no processo civilizatório do Ocidente não tivesse sido único.

Mas quem sabe disso hoje em dia? O problema é que, comprometidas com a ideologia marxista, as escolas e universidades não mais estão mostrando o tremendo impacto do cristianismo na cultura, e o quanto nos beneficiamos disso. Leis mais humanas, moralidade, tudo isso, que consideramos "lugar-comum", é na verdade cristão em sua origem. (Ver aqui no blog a série "O que Deus fez por você através da cultura", aqui e aqui.) Sem o substrato cristão na cultura, ainda estaríamos como os antigos romanos, sem o menor respeito pela vida humana enquanto tal, matando crianças e inimigos do Estado sem limite algum. Esse igualitarismo religioso é uma invenção do atual totalitarismo de esquerda para minar a identidade cultural dos países, deixando-os mais abertos para as engenharias sociais. A questão não é abrir espaço para Buda, mas sim por que tirar o crucifixo: porque há interesses escusos na retirada do substrato cristão da cultura. Como diziam os nazistas, são esses "horríveis discípulos de Cristo" que impedem a matança generalizada ao bel prazer deles (cf. Milosz, Mente cativa, e não, ele não era cristão, mas relatou isto pois percebeu o que estava em jogo nos totalitarismos - a mudança forçada e violenta da cultura e a criação do novo homem pelo homem).

Claro, falar da positividade da moral cristã na cultura não equivale a sancionar os muitos erros da religião institucional. Como sou protestante, o crucifixo em si não me diz muito, mas eu consigo ver além nessas medidas, e o que está além é o desejo de secularizar completamente a cultura. E, como cristã, é meu dever avisar: isso que as pessoas veem como "parte da paisagem" é uma conquista cristã, como o fim do infanticídio; logo, se o cristianismo na cultura continuar a ser banido, as conquistas também o serão. Não por acaso, eminentes acadêmicos e cientistas - como o famigerado Peter Singer - estão advogando a volta do... infanticídio!

Não é questão de religião oficial. É reconhecer que somos o que somos com base principalmente no cristianismo. A escola colabora com a secularização, logo, se as pessoas não buscarem isso por si, ficarão achando que somos o que somos meio que "por acaso"!

O crucifixo não diz que o Estado é cristão, mas marca nossa identidade e a identidade do próprio Direito ocidental. Se não sabemos mais essas coisas, é porque a doutrinação esquerdista na escola e na universidade está funcionando bem. O maior inimigo dos totalitarismos sempre foi o cristianismo. A história o demonstra.

04 setembro 2013

Não há chatice no conhecimento segundo Deus


- Yago, a sua disposição pra aprender tem te levado longe. Que Deus o abençoe mais e mais nisso.
- Mas nem é disposição pra aprender não, é só constatação do óbvio, hehe.
- Ficamos impressionados, eu e Dé, no tanto que você tem mostrado de evolução, sabe?
- Eita. Sério? Eu não percebi muita coisa ainda, hehe.
- Lembra quando no ano passado você me disse lá em casa: "Eu não gosto de política"? Não parece longe isso?
- Vish. Verdade. Que coisa... Só agora caiu a ficha, haha!
- Haha!
- Que coisa boa. Acho que comecei a gostar do assunto quando percebi que dá pra pensar nisso teologicamente.  E não de modo "meramente político".
- Pois é. Na verdade, o "meramente político" é usurpação da mente não-regenerada. Uma invenção artificial e reducionista. O verdadeiramente político está debaixo da autoridade de Cristo, portanto, SÓ pode ser pensado com as categorias teológicas corretas.
- Sim.
- Agora nós sabemos que você, como pastor, não vai fazer a separação entre teologia e cultura, como a maioria faz. Ficamos muito felizes! Não é bacana quando nossa mente compreende isso? É libertador.
- Mas isso não é uma realidade só com política, mas como tudo na vida.
- Exato!
- É absolutamente libertador. É um mundo novo, hehe!
- Sim, porque é o mundo como Deus vê. Não que vejamos como Deus vê (não somos oniscientes), mas começamos a pensar analogicamente, com a mente de Cristo. Para nós, é sempre novo.
- Sim.
- Não há chatice no conhecimento segundo Deus.

02 setembro 2013

Em guerra contra o temor de homens



René Girard me ensinou que nossa época, talvez mais que as anteriores, mascara o tempo todo a interdependência (ponto positivo) e a idolatria (ponto negativo) que caracterizam as relações humanas. Hoje, só por respirarmos nas grandes cidades ocidentais do século XXI, temos uma visão excessivamente autônoma de quem somos e de como nos comportamos. “Eu decido ser o que quero ser” é o mantra da vez. As pessoas escolhem ídolos como um ato de suprema rebeldia, desatentas ao fato de que prestam culto.

Já tratei várias vezes dessa “ilusão romântica” aqui – em linguagem bíblica, mascaramento do “temor de homens” – , mas apenas há alguns meses tenho me dado conta de que Deus está promovendo em meu coração algumas mudanças sutis quanto a isso, sinalizadas aqui e ali. Às vezes, Ele não deixa que esqueçamos uma reação emocional antiga nossa a fatos específicos do passado, e algum tempo depois nos faz comparar essa reação com alguma mais recente, aos mesmos fatos, mostrando o quanto Ele já nos transformou – milagre! Conto duas delas aqui.

Na primeira, em 2004, em um evento promovido pela Sepal em São Paulo, lembro que James Houston repreendeu a plateia porque aplaudimos uma frase sua. Naquela hora, pensei: “Mas que bobagem. Estamos aplaudindo só para manifestar nossa aprovação.” Ele explicou que os aplausos o prejudicavam por instigar nele o orgulho. Hoje, penso diferente, e lhe agradeço por nos ter lembrado os perigos da idolatria ocultada.

A segunda foi quando li há alguns anos que Calvino pediu para ser enterrado em local incerto para evitar peregrinações a seu túmulo. Achei mesmo uma aberração: se todo mundo tem pedra no túmulo, por que Calvino não podia ter? Agora eu o compreendo, e mais, admiro-o muitíssimo por isso.

Houve ainda um terceiro fato muito importante este ano, enquanto eu estava em São Paulo, cursando a matéria do prof. João Alves sobre Calvino no CPAJ (Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper). Confesso que, fiada na minha grande humildade (pois é!), eu nunca tinha me dado conta seriamente do quanto aprecio ser reconhecida por leitores. Tive de conversar sobre isso com meu marido, cheia de vergonha, depois que cheguei a Natal e percebi que todo aquele frisson à minha volta me fazia falta. Pois bem, durante o curso, o prof. Tarcízio (que naquela ocasião substituía o prof. João Alves) promoveu um debate em sala sobre supralapsarianismo e infralapsarianismo, ao qual eu havia chegado atrasada. Lá na frente, pôs dois “advogados” dentre os alunos, cada um se esforçando argumentativamente para fazer valer seu ponto. Quando o rapaz encarregado de defender o infralapsarianismo declarou que a adesão a um desses pontos não tinha grandes incidências práticas na vida de ninguém, eu me inflamei e, praticamente equalizando infralapsarianismo com arminianismo, discursei durante alguns minutos sobre as profundas diferenças na cosmovisão – logo, na vida! – de quem acredita na preparação divina da salvação depois da queda. Ao final daquela preleção, com muito tato, o prof. Tarcízio comentou que a visão que eu tinha do assunto era a popular, não a teológica.

Cuén cuén cuén cuén...

Lembro que depois, na sala, eu me levantei para sentar em outro lugar e ainda tive que ouvir “Vai, infra!”, o que me fez sorrir de vergonha e alegria ao mesmo tempo. Alegria? Sim, pois aquele foi o melhor modo – o mais bem-humorado! – que Deus encontrou para me mostrar que estava em guerra contra meu temor de homens. Obrigada, Pai!