31 outubro 2007

Hoje é dia da Reforma!

Leia também: post do Tempora

Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.
Jesus Cristo em Mt 22:29
Examinai as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas
a vida eterna,
e são elas que de mim testificam.
Jesus Cristo em Jo 5:39
O muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles estavam
os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.

Apóstolo João em Ap 21:14


Quando pensamos nas inúmeras igrejas evangélicas que continuam se formando das mínimas dissidências através das últimas décadas; quando verificamos a falta de consistência bíblica e de preparo intelectual e/ou espiritual de muitos líderes dessas igrejas; quando lembramos as denominações e os pastores que aderem ao aborto e à causa gay... nada disso nos deixa propícios a comemorar o Dia da Reforma.

Porém, os primeiros líderes da igreja primitiva já tinham seus problemas, e eles não eram leves. Gente que mentia ao Espírito Santo, que pervertia a fé dos outros ao anunciar que a ressurreição já havia ocorrido, que se fingia de pregador fiel para tirar dinheiro do povo, que forçava a barra para que os procedimentos judaicos continuassem a ser praticados... e nenhum desses desvios era suficiente para apagar a grande alegria que os cristãos sentiam em ser discípulos de Cristo, depositários de Sua maravilhosa Palavra (que limpa a alma) e do penhor do Espírito (que nos permitirá estar com Deus naquele dia).

Olhamos para trás e a nossa volta, e somos capazes de reconhecer os inúmeros erros da igreja cristã. No entanto, também podemos atestar os imensos cuidados de Deus para que a fé continuasse viva e atuante em todos esses séculos. O princípio da Sola Scriptura, ao contrário do que católicos e ortodoxos afirmam, não é um espécie de idolatria ao Livro; é, ao contrário, mostra do infinito amor de Deus para conosco, não deixando que ficássemos vulneráveis às inconstâncias dos homens através dos tempos. O princípio da Sola Scriptura é a razão de ser da própria Bíblia: balizador de nossa fé, porto seguro para onde nos voltamos quando as falas sobre Deus ao redor nos parecem desconexas demais.

Li hoje no Orkut: "Não existe a noção de Sola Scriptura nos quinze primeiros séculos do cristianismo. O Cristianismo nunca foi uma religião do livro, pois a Palavra de Deus é Cristo encarnado, ressucitado e vivo entre nós. Tinta sobre papel, nesse caso, é secundário. E pode ser letra que mata."

O problema com essas afirmações é que elas não podem ser enunciadas sem que seja introduzido um grande princípio relativista na relação do cristão com a Bíblia. Elas contradizem as palavras e o comportamento do próprio Jesus. Vejamos.

No Novo Testamento, Cristo menciona aqueles que viriam a crer Nele não por um encontro direto com o Deus encarnado, como tinha acontecido com os discípulos, mas sim por Suas palavras. Ora, as palavras de Jesus não podem mais nos ser passadas boca-a-boca - suas testemunhas diretas não mais circulam entre nós - , mas sim pelo Livro (e, ainda indiretamente, por quem lesse o Livro e reproduzisse oralmente o que lá achasse escrito). Nesse sentido, quando as palavras de Jesus não estavam escritas, eram autoridade a partir da boca de Seus discípulos sinceros. Mas, como estão escritas, são autoridade a partir do Livro. Isso parece óbvio, mas não é. O registro detalhado da fé e sua organização em forma de um Livro espantosamente coerente é a prova de que Deus providenciou meios para que o conteúdo do que cremos não fosse facilmente alterado através dos séculos.

Além disso, há outro fator muito importante. Conforme lemos no Novo Testamento, quando Jesus começou a exercer Seu ministério, como é que Ele demonstrou que a religião judaica daquele tempo - que deveria testificar Dele como o Messias - havia se desviado grandemente de seus propósitos originais? Pelo Livro, ainda incompleto, da época: o que chamamos hoje Antigo Testamento. Como é que Ele corrigia os desacertos de seus contemporâneos acerca Daquele que havia de vir? Com a interpretação adequada do Livro.

Quando interpelado por autoridades judaicas, Jesus sempre respondia com palavras do Livro, deixando claro que o erro de seus questionadores era desconhecer as Escrituras. No encontro com a mulher samaritana, Jesus corrige sua cosmovisão dizendo-lhe algo que só o Livro pode atestar: a salvação que Ele representava vem dos judeus. E é com a autoridade desse Livro que Jesus vai à sinagoga, abre-o em Isaías e começa a ler sobre o Messias que viria, anunciando em seguida: "Sou eu este de quem o Livro fala." Se o próprio Jesus tratou o Livro como autoridade, por que deixaríamos de agir como Ele?

Há inúmeros exemplos em todo o Novo Testamento. Depois que Jesus ressuscita, os discípulos não O reconhecem de imediato. Ele então começa a narrar longamente os fatos do Livro - novamente, do Livro - para mostrar como era necessário que o Messias padecesse. Jesus conhecia o Livro e sabia que a reação correta de Seus discípulos a Sua presença depois de ressurreto dependia da correta interpretação das palavras ali registradas. Ele tinha o Livro em proeminência e não admitia que os líderes seus contemporâneos falseassem o que estava nas Escrituras, como demonstrou, por exemplo, no Sermão do Monte. Diante disso, não podemos agir diferente.

Os discípulos de Jesus compreenderam isto. Em Atos, os judeus de Beréia são louvados porque confirmaram as palavras pregadas pelos apóstolos da seguinte maneira: abriam o Livro e verificavam se estava correto o que ouviam. Não há dúvida de que seu louvor nos convida a fazer o mesmo, hoje, mais de dois mil anos depois da vinda do Senhor. Se fosse diferente, os judeus de Beréia não seriam elogiados, mas sim repreendidos, por submeterem as palavras dos próprios discípulos de Cristo ao Antigo Testamento - palavras que se verificaram verdadeiras e coerentes com os primeiros escritos, e que, por esse mesmo exame, foram acrescentadas ao Livro, ganhando o mesmo status que as anteriores. Se o AT era utilizado por Jesus para atestar a veracidade de Suas afirmações, não podemos fugir do fato de que o NT é repleto de recomendações para que os cristãos se ativessem aos conteúdos enunciados pelos apóstolos, colocando-os em evidente proeminência a qualquer outro ensino posterior. Assim, por que o procedimento seria outro, se hoje, no mundo ocidental, temos o privilégio de possuir em mãos o mesmo Livro, acrescido das palavras de Jesus e dos apóstolos comissionados diretamente por Ele para pregar Sua palavra? Por que Jesus exigiria de nós algo diverso do exame que Ele próprio realizou nas Escrituras, as quais conhecia e amava?

É verdade que o protestantismo causou muitas turbulências na cristandade. Guerras e ódios marcaram e ainda marcam a rivalidade que começou com Lutero, e a divisão entre os cristãos cobra imensos tributos. Além disso, católicos e ortodoxos, talvez beneficiados por sua maior antiguidade histórica, continuam a ser especialmente brilhantes na filosofia e na literatura. Porém, o exame da Bíblia para confirmar fatos verdadeiramente cristãos - ou seja, o tratamento das Escrituras como autoridade para os conteúdos da fé - é algo que Cristo praticou e que serviu de exemplo para seus discípulos. A preocupação com a pureza da fé e com a permanência naquilo que Jesus e os discípulos ensinaram é parte constitutiva desse Livro, que começa com a criação do mundo e termina com o fim, algo que marca sua inviolabilidade depois da vinda do Messias. Palavras de homens não podem contradizer o registro bíblico - nem as posteriores à Septuaginta, nem as posteriores aos escritos dos apóstolos - , sob o risco de ir além das palavras de Jesus e daqueles comissionados diretamente por Deus para a autoria inspirada do Livro. Não podemos contradizer esse princípio sem relativizar a Bíblia. E muitos cristãos só mantêm esse cuidado, hoje, por causa da Reforma. Por isso, principalmente por isso, posso louvar a Deus pela forma com que nos conduziu até aqui e agradecer a Ele, de coração, pelo dia 31 de outubro. Aleluia!

24 outubro 2007

Abortem-se os pobres

Uma falácia leva a outra. Primeiro, começaram a dizer que a maior causa da violência é a pobreza. Ou seja, colocaram todos os pobres no mesmo saco, honesto com bandido, e insultaram os honestos. (Isso é coisa de quem não anda com moradores de favela. Quem tem amigos na favela sabe o quanto Deus é democrático em distribuir beleza, coração generoso, dons e talentos em todos os meios sociais.)

- Não julguem as pessoas com base em seu meio social! - tenho vontade de gritar.

Agora, valendo-se de uma tese ridícula dos autores de Freakonomics, andam dizendo que uma das medidas urgentes contra a violência é a legalização do aborto. Declarações tão absurdas como essa começam a pulular por aí com a carinha lisa da sonsice. Depois nós, conservadores, é que somos nazistas e fascistas... O determinismo implícito nessa tese “nasceu pobre, vira bandido” é tão ultrajante que nem tenho vontade de comentar.

Apenas imagino a seguinte cena: uma moradora de favela, grávida, encontra um político famoso. Segue-se o diálogo.

- Ih, minha filha, você está grávida, é?

- Estou... - responde ela, olhando para a barriga.

- E agora? Não se precaveu, né.

- É verdade. Mas eu quero ter ele.

- Você vai deixar nascer???

- Vou!

- Não acredito. Minha filha, pensa bem! Você é pobre!

- Sou pobre, mas vou lutar para cuidar do meu filho.

- Não, você não está entendendo. Você é pobre. Pooooooobre! Você mora na faveeeeeeela! Você já olhou em volta? Já percebeu quantas mulheres à sua volta estão tendo filhos sem parar? Esse monte de crianças poooooooobres, depois, vão crescer e descer para assaltar o povo do asfalto, que tem pouco filho – um, dois, no máximo – e não precisa roubar para sobreviver. Está entendendo, minha filha?

- Mas que absurdo! Como é que você tem tanta certeza de que meu filho vai virar bandido?

- (Olha para cima, perdendo a paciência.) Como eu posso ter certeza? Ora, minha filha! O homem é produto do meio! Onde você mora é uma fábrica de produzir marginal!

Ela arregala os olhos, incrédula. Antes de ir embora, o político famoso aponta dramaticamente para a barriga e vocifera:

- Livre-se desse monstro o quanto antes!!!

19 outubro 2007

A arte moderna e o mundo como idéia


Hoje está em voga nas galerias o tipo de exposição que se chama “instalação” – um gênero artístico esquisito, inspirado no famoso urinol assinado por Marcel Duchamp (foto), em que as idéias substituem as obras de arte: objetos cotidianos são arranjados de modo a representar uma determinada idéia do artista, e a idéia se torna a verdadeira vedete do acontecimento. A idéia tem de tal modo substituído a arte que já se viu um pouco de tudo. Listo aqui todas as manifestações sobre as quais já li ou presenciei:

- Artista vendendo as próprias fezes em saquinhos;

- Artista expondo uma reprodução de seu próprio quarto após uma noite de sexo: uma cama desarrumada, louças sujas, camisinhas pelo chão;

- Artista pintando quadros com o próprio vômito, depois de ingerir tinta;

- Artista trazendo cadáveres para exposição ou esculpindo estátuas com matéria-prima de corpos mortos;

- Artista se jogando em cima de uma tela gigantesca para que, de sua morte, nasça sua última “obra”, hoje exposta em um museu de Tóquio.

É no mínimo intrigante perceber um fio comum que une essas manifestações: a insistência na escatologia, um fenômeno complexo que tenho tentado compreender, que me parece caracterizar mais uma manifestação daquilo que René Girard chamou “transcendência desviada”. Nesse caso, desviada para a arte: as instalações tentariam atravessar o tabu da morte, dessacralizá-lo, exorcizá-lo. Aquilo que, sabemos, apenas Jesus pôde fazer – a vitória sobre a morte (At 2:24) – se vê falsamente representado em um grotesco desfile de dejetos do corpo e cadáveres, em nome da tão elástica noção atual de “arte”.

O que pode ser mais tabu que a morte? O artista que o atravessa simbolicamente parece ganhar contornos de semideus. Só isso explica a popularização absurda da instalação, mas sobretudo das instalações “escatológicas”. E só isso explica as justificativas que recebeu um artista costa-riquenho, Guillermo Habacuc Vargas, por expor e deixar morrer de fome na galeria um cão doente recolhido nas ruas de Manágua, com a cruel ironia de um letreiro, acima dele, com a frase “Você é o que você lê” escrita com rodelinhas de ração coladas na parede. Justificativas como essa: “Pessoas morrem todos os dias de fome, drogadas, por xenofobia [sic] ou por estúpidos burgueses que ignoram e não se responsabilizam pela putrefação da vida atual. Bravos pelo prêmio, agora o cão está no céu, e o melhor é que morreu como uma obra de arte e não no silêncio das ruas.”

Morreu como uma obra de arte e não no silêncio das ruas. Sim, mas poderia ter sido recolhido para tratamento e adoção, como fazem tantas queridas amigas minhas, dedicando-se à causa dos animais abandonados. Poderia ter tido anos de vida feliz. Em vez disso, foi sacrificado em público para ser divinizado em nome da religião “arte moderna”, e para que seu sacerdote, esse “artista” Habacuc, seja alçado à categoria de profeta da modernidade.

E por que profeta da modernidade? Porque sua história resume a maior tragédia do nosso tempo: ele estava preocupado com o cão “como idéia”, e não com o cão real, faminto e doente, a seu alcance. É a preocupação com o ser humano genérico que substitui a ação real e eficaz nos regimes comunistas; senão, como explicar que, em nome do amor e de “um mundo melhor”, tenham sido feitas tantas vítimas, na casa dos milhões? Da mesma forma, é a preocupação com a idéia dos oprimidos - pobres, mulheres, negros, gays - que caracteriza a ação dos militantes politicamente corretos hoje; senão, como compreender que sua militância se concentre no Ocidente, e não no Oriente, onde não só mulheres e gays são assassinados e mutilados, mas também milhares de cristãos sofrem e morrem diariamente por causa de sua fé?

No totalitarismo vitimário moderno, desloca-se ou inventa-se uma vítima somente para que, em seu nome, sejam justificados os sacrifícios de incontáveis outras vítimas - essas, tão reais quanto o animal deixado para morrer como “obra de arte” no canto de uma galeria em Manágua. Confrontado sobre sua “arte”, Habacuc explicou que a presença do cão foi uma homenagem a Natividad Canda, morto por um rottweiler. Suas sentenças são reveladoras: “Me reservo o direito de decidir se é certo ou não que o cachorro morra”, desafiou, refletindo a atual inversão que submete até a vida a desígnios íntimos. E completou: “O importante para mim é a hipocrisia das pessoas: um animal assim se converte em foco de atenção quando o coloco em um lugar onde as pessoas vão ver arte, mas não quando está envolvido na morte de um homem, como aconteceu com Canda.” Além de mentirosa - pessoas mortas por animais são sempre assunto de destaque na mídia -, sua desculpa apenas evidencia o caráter expiatório, substitutivo, do sacrifício do cão. Arvorando-se em juiz, Habacuc achou justo que morresse um cachorro para expiar o ato de outro, apresentando essa morte em público, orgulhosamente, como arte, como idéia digna de ser chamada de arte. É sempre o mesmo processo: os sacrifícios arbitrários da modernidade precisam se escorar em uma vítima qualquer para que o sacrificado se torne merecedor da morte que lhe foi destinada. O pobre cãozinho, tão inofensivo que tinha sido capturado por crianças, sem nada compreender do que lhe acontecia, foi oferecido em libação simbólica à ânsia vingativa que parece ter tomado conta da humanidade com força especial nesses últimos dias - ânsia que se absolutiza como Idéia desencarnada, acima do bem e do mal, travestindo-se de justiça e roubando a forma da arte para se positivar.

Na figura de um pobre cachorrinho batizado Natividad, a quem foram negadas comida e água para que, reificado, continuasse servindo como objeto à causa Idéia, cumpriram-se mais uma vez os propósitos macabros de nossa época: a idéia substituiu não só a arte, mas a vida.
Veja as fotos da exposição e acompanhe os comentários assustadores que os defensores do artista postaram lá.

Assine a petição para que Habacuc seja confrontado com o justo limite para sua "arte": o limite sagrado da vida. Eu assinei: sou o número 21792.

E não deixe de ler:

Obras de René Girard;
O mundo como idéia, Bruno Tolentino, poemas
Desconstruir Duchamp, Affonso Romano de Sant'Anna, crônicas sobre a arte moderna

11 outubro 2007

Diálogo Filosófico I: Teoria e vida, um falso dualismo

Dois personagens intergalácticos de C.S. Lewis, nascidos em um planeta já redimido por Deus, resolvem visitar escondido no meio da noite, sem fazer alarde, a maior biblioteca do planeta Terra. Depois de uma rápida olhada pelos livros ali presentes - afinal, sua velocidade de leitura e compreensão é muito maior que a nossa - , o mais novo, indignado, comenta com o mais velho:

- Quem foi que inventou neste planeta o texto teórico sem conexão com a vida?

- Hummmm... Boa pergunta. Só pode ter sido o próprio diabo. Com o reforço dos seres humanos que têm especial dificuldade com suas emoções.

- E quem foi que inventou que não existe teoria pessoal? Isso parece ser dominante a partir do século XX...

- O mesmo diabo. Para confundir as mentes. Agindo assim, força o ser humano a escolher entre teoria e vida, um falso dualismo. No primeiro caso, o homem se torna um racionalista, refugiando-se na exposição lógica sem conexão com a experiência. Não consegue revelar sentimentos nem se relacionar profundamente com ninguém. Tem medo de viver e se encastela nas tautologias da linguagem, nas complexidades fúteis da filosofia ou nos meandros de um idealismo missionário, como se fosse alguém puro demais para se misturar com os demais homens. No segundo caso, é um cínico, um destruidor em série de toda possibilidade de argumentação objetiva. Não vê quase nada em comum entre os homens. Perde-se nas diversidades da vida e se recusa a elaborar explicações para a variedade de fenômenos a que assiste, tornando-se um experimentador que nada consegue aprender, alheio às incoerências de sua própria cosmovisão...

- Parece-me que os dois extremos se encontram na esterilidade...

- Sim, todo dualismo produz efeitos semelhantes, ainda que pareçam opostos.

- Mas o racionalista não pode ser, ao mesmo tempo, um cínico?

- Sim, principalmente nesses tempos bicudos que o planeta Terra vive! Hoje, o ser humano se acostumou a tal ponto com a setorização mental que consegue, por exemplo, ser um racionalista em seu emprego e um cínico em sua vida pessoal. Ou vice-versa. As combinações são incontáveis... Em todas elas, está presente o mesmo muro que impede a conexão profunda entre ser, crer, pensar, agir.

- E o diabo se aproveita para pulverizar ainda mais a mente dos habitantes do planeta!

- É. A cultura dominante reforça tanto a fragmentação quanto a inconsciência e consegue até confundir os próprios crentes...

- [Arregala os olhos.] Os próprios crentes?!

- Sim, infelizmente. Há muitos crentes que lêem a Bíblia e “sabem” a história da salvação, mas não conhecem Cristo, não são transformados para a santidade. E há muitos crentes que escolhem só o aspecto relacional da fé, o amor cristão, mas negam-lhe o caráter universal, moral e transcendente, justificando a si mesmos para não ser transformados. Nesses casos, só o poder revelador e unificador do Espírito Santo pode intervir para a verdadeira comunhão com Deus.

- [Revoltado] Que cruel estratégia a do diabo!

- Sim. Mas Deus é poderoso para desfazer esse emaranhado e mitigar suas conseqüências.

- Amém!

- Amém!

Os dois seres deixam então a biblioteca e o planeta, concordando silenciosamente em oração sobre o desfecho da conversa.

01 outubro 2007

O Brasil não é o Irã: o projeto anti-homofobia

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, declarou recentemente que no país "não há homossexuais". Não digo que não haja, mas com certeza eles não se mostram à luz do dia: no Irã, como na maior parte do Oriente Médio, homossexualismo é crime.

Em 2005, Arsham Parsi fugiu do Irã para preservar a própria vida. Há quatro anos mantinha uma organização de defesa dos direitos dos homossexuais por uma rede de e-mails, foi descoberto e começou a ser ameaçado. Quando percebeu que a polícia tinha rastreado seu telefone, decidiu pedir asilo no Ocidente e hoje mora no Canadá, onde se sente livre para continuar seu trabalho. "A vida para um gay iraniano é muito dura, por falta de informação sobre o assunto e falta de segurança também", lamenta. "Ele tem que usar uma máscara 24 horas por dia." Parsi explica que a cultura iraniana pune o homossexualismo com a morte. "Muitos não chegam a ser presos ou perseguidos pela polícia, mas são executados pela própria família. Em geral, a sociedade apóia a perseguição aos gays. No ano passado, por exemplo, soubemos do caso de um pai que ateou fogo e matou o próprio filho, de 18 anos, quando descobriu que ele era gay, para manter a honra da família." Acrescenta que é impossível saber os números de execuções por homossexualismo: "Não são divulgados pelo Ministério da Justiça", afirma. Isso dá um novo significado à frase de Ahmadinejad: no Irã, os homossexuais são os invisíveis da cultura.

Da mesma forma que o Irã, países como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Iêmen decretam pena de morte para o homossexual, enquanto Iraque, Kuwait, Líbano, Omã, Qatar e Síria o colocam na prisão por um período que pode ir de um a dez anos. Na África, a maioria dos países prevê prisão e multa, e alguns ainda aplicam pena de morte. Na Ásia, países como Afeganistão, Sri Lanka, Bangladesh, Singapura e Malásia aplicam detenção e multa, enquanto a Chechênia prevê pena de morte. A situação muda radicalmente no Ocidente cristianizado. Na Europa inteira não se acha um só país que preveja sanção de qualquer espécie para o homossexualismo. Nas três Américas, apenas a Nicarágua pune com prisão e multa, e a Guiana com prisão perpétua. Nada de pena de morte. São exceções das exceções. E o país mais ocidentalizado do Oriente Médio, Israel, é o único a garantir liberdade e proteção para os gays. Mesmo em países orientais onde não há pena de morte para o homossexual, como Palestina e Jordânia, a população fica impune quando mata um gay, o que ainda é comum. Assim, os gays se refugiam em Israel ou no mundo ocidental, porque sabem que lá estarão seguros. Diante de todos esses dados, é incrível que tantas ideologias continuem culpabilizando o Ocidente cristianizado por boa parte dos males do mundo, enquanto em regiões que não sofreram influência do cristianismo as mulheres, os gays e os dissidentes religiosos são continuamente mortos, mutilados e presos por culturas que não reconhecem a liberdade individual - um dos frutos da graça comum dispensada por Deus com o advento de Cristo.

Quais são, portanto, as semelhanças entre a cultura iraniana e a cultura brasileira? Em relação aos gays, nenhuma. Com a exceção de alguns loucos que assassinam gays assim como o Maníaco do Parque matava e enterrava mulheres indefesas, o Brasil ama o homossexual, que é bem recebido hoje em praticamente todos os ambientes - desde o meio da moda até a sala de aula. Ninguém mais tem de disfarçar seu "jeitinho", a não ser se preferir se manter no armário, por motivos pessoais. A homofobia brasileira não é regra, mas exceção. Pouquíssimos brasileiros, hoje, olharão para um gay na rua com ódio. No máximo, com uma atitude zombeteira. E nossa cultura tem se apressado a condenar cada vez mais o sujeito que manifesta algum desconforto com relação ao gay ou se recusa a ter contato com ele.

Sendo assim, por que o discurso ativista, no Brasil, ainda insiste em se referir a nossa cultura como se fôssemos matadores contumazes e incorrigíveis de homossexuais? Onde estão esses números gigantescos de gays assassinados? Serão eles maiores que os números de mulheres jovens, por exemplo? Serão esses números capazes de nos convencer de que odiamos os gays? Mas olhe em volta: seu professor de literatura é gay, seu poeta preferido é gay, seu cabeleireiro é gay, seu decorador é gay, seu ator preferido é gay. Isso realmente o incomoda? Isso incomoda o brasileiro? Não é preciso muito para reconhecer a verdade: o argumento de que o brasileiro odeia o gay está sendo utilizado como arma política. Impossível não concluir: militância politicamente correta é simples luta de poder. Não tem nada a ver com liberdade. Se tivesse, lobistas gays e feministas concentrariam seus esforços onde realmente se precisa deles. Aqui, os assassinos de gays, assim como espancadores e estupradores de mulheres, devem ser responsabilizados individualmente por seus crimes, algo de que a lei disponível já dá conta. Afirmar que os homossexuais não são livres em uma cultura como a nossa é zombar dos gays enforcados, apedrejados e esfaqueados, com o consentimento das leis e da população, nos países que não têm tradição de liberdade individual.

É um contra-senso, portanto, que o lobby gay queira aprovar um projeto de lei que, por causa de suas imprecisões, poderá ser utilizado justamente contra os cristãos, para impedir até mesmo a mais singela leitura da Bíblia em voz alta, a mais indefesa opinião de que o comportamento gay não é "normal" ou "natural". Como boa cristã ocidental, sou a favor da livre expressão - tanto dos gays quanto dos religiosos. No Brasil, os gays já têm a sua. Não tirem a nossa.

Fontes: Wikipédia e Bonde News