12 setembro 2005

Exílio involuntário

Esse texto é um comentário a um post no blog Nadando Contra a Maré... Vermelha, de Luís Afonso Assumpção.

Oi, LA! Ontem mesmo eu estava comentando com um amigo que passei a vida inteira, aqui no Brasil, procurando algo que hoje dolorosamente constato que não existe. O que é esse algo? Lendo seu post, algumas idéias me vêm à mente, mas todas elas remetem a uma só noção: solidez. Solidez de tradição, de cultura, de democracia (verdadeira). Mas, sobretudo, solidez intelectual - algo que só poderia se exprimir pela palavra identidade. Eu queria de todo jeito me apropriar de uma sólida herança intelectual de meu país, integrando-me nela e engrossando-a com minhas pesquisas, meus insights, meu sangue e meu suor, se necessário. Hoje vejo que tal é impossível, pois o que poderia se chamar "herança intelectual" não passa de uma sombra, um caldo indefinível agora diluído em um caldeirão de idéias prontas e forjadas nas fôrmas tóxicas do marxismo, do relativismo, do pensamento politicamente correto, abundantemente regadas e nuançadas de uma auto-indulgência e uma autovitimização que a história brasileira não logrou erradicar, apenas travestiu de ideologia e propaganda. Não, não fui ao desfile. Nem pensei no dia da independência, para falar a verdade. Apenas me lembrei do número de anos neste exílio involuntário, nesta procura inexata e dolorida que sempre fez parte de minha juventude, e reafirmei meu desejo de continuar buscando - em outro lugar.

06 setembro 2005

A fanfarronice da Caros Amigos

Hoje, passando em frente a uma banca de jornal, vi a capa toda preta da revista Caros Amigos, com os dizeres:

"Corrupção: Somos todos desonestos?"

Praguejei em voz alta. Não costumo fazer isso, mas desta vez a fanfarronice foi demais. Com que autoridade, com que prepotência os autores da revista querem jogar de volta para o leitor brasileiro - decerto, sempre pronto a acatar todas as culpas - a pecha de "corruptos" para aliviar o bandinho governamental e pró-governamental pego em flagrante? Senti-me ultrajada, vilipendiada. Eles que vão purgar as suas culpas, que a mim elas nada dizem respeito.

Ah... Mas talvez eu não tenha entendido bem. Talvez o "nós" da revista - abençoada ambigüidade da língua portuguesa - não se refira, de modo algum, à totalidade de leitores umbigais, muito menos ao povo brasileiro, mas a eles próprios, o grupinho reduzido dos escrevinhadores. Ah, sim. Mas por que nos perguntam se eles mesmos são desonestos? Será que, à força de tanto fazer a coisa, de tantas justificativas às vezes até auto-impingidas, coitados, terão eles esquecido a natureza corrupta de seus atos e palavras?

Como cristã, diante da pergunta que não me compete responder, só me resta então recomendar o aviso do Apóstolo Paulo: "Que cada um examine a si mesmo."